ATA DA VIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 23-8-2001.

 


Aos vinte e três dias do mês de agosto do ano dois mil e um, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e dezoito minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Desembargador Garibaldi Almeida Wedy, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 059/01 (Processo nº 1346/01), de autoria do Vereador Cassiá Carpes. Compuseram a MESA: o Vereador Fernando Záchia, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Deputado Estadual Sérgio Zambiasi, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; o Desembargador Luís Felipe Vasques de Magalhães, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor João Verle, Prefeito Municipal de Porto Alegre em exercício; a Conselheira Terezinha Irigaray, representante do Tribunal de Contas do Estado; o Senhor Hélio Ângelo Lodi, Prefeito Municipal de Soledade - RS; o Desembargador Francisco José Moesch, representante da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - AJURIS; o Senhor Telmo Kruse, Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Desembargador Garibaldi Almeida Wedy, Homenageado; o Vereador Cassiá Carpes, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Cassiá Carpes, em nome das Bancadas do PTB, PSB e PMDB, teceu considerações a respeito da importância da presente solenidade e historiou a vida do Desembargador Garibaldi Almeida Wedy, ressaltando o notável saber jurídico, a honestidade, equilíbrio e a capacidade de fazer amigos demonstradas por Sua Excelência ao longo de sua vida. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença do Vereador Manoel Pedro Silveira Castanhedo, do Município de Soledade - RS e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Estilac Xavier, em nome das Bancadas do PT e PC do B, destacando a honra em poder se pronunciar nesta Sessão Solene, analisou a dedicação ao Direito e a trajetória de êxito do Senhor Garibaldi Almeida Wedy como Professor, Juiz, Desembargador e dirigente da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - AJURIS. O Vereador Nereu D'Avila, em nome da Bancada do PDT, lembrando ser conterrâneo do Desembargador Garibaldi Almeida Wedy, relatou passagens da vida de Sua Senhoria e de seus antepassados, acontecidos no Município de Soledade e afirmou que o homenageado honra as tradições de sua terra, por suas virtudes como pessoa e personalidade do mundo jurídico. O Vereador João Antonio Dib, em nome da Bancada do PPB, enfatizou ser a presente homenagem um coroamento aos serviços exemplares prestados à coletividade pelo Desembargador Garibaldi Almeida Wedy , enfocando a conduta irrepreensível de Sua Senhoria, baseada no trabalho abnegado, na dignidade e coragem que demonstrou às causas do Direito. Na ocasião, o Senhor Presidente informou que o Deputado Estadual Sérgio Zambiasi e o Desembargador Luiz Felipe Vasques de Magalhães se ausentariam da presente solenidade, face a compromissos anteriormente assumidos. Em seguida, o Senhor Presidente convidou os Vereadores Cassiá Carpes e Nereu D'Avila para procederem à entrega, respectivamente, do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Desembargador Garibaldi Almeida Wedy, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e trinta e oito minutos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Fernando Záchia e secretariados pelo Vereador Cassiá Carpes, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Cassiá Carpes, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Desembargador Garibaldi Almeida Wedy com o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, nos termos do PLL nº 059/01, de autoria do Ver. Cassiá Carpes.

Compõem a Mesa: o nosso homenageado, Desembargador Garibaldi Almeida Wedy; o Ex.mº  Sr. Presidente da Assembléia Legislativa do Estado, Deputado Sérgio Zambiasi; o Ex.mº Sr. Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Luís Felipe Vasquez de Magalhães; o Ex.mº Sr. Prefeito de Porto Alegre, no exercício da Prefeitura, Dr. João Verle; a Ex.mª representante do Tribunal de Contas do Estado, Conselheira Terezinha Irigaray; o Ex.mº Sr. Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre, Dr. Telmo Kruse. Saudamos, também, o Ex.mº Sr. Prefeito Municipal de Soledade, Dr. Hélio Ângelo Lodi; o Ex.mº representante da AJURIS, Desembargador Francisco José Moesch.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Queremos cumprimentar o Ver. Cassiá Carpes pela iniciativa, para que esta Casa, este Parlamento Municipal possa homenagear o Dr. Garibaldi Almeida Wedy por toda sua história que nós conhecemos.

Mas esta presidência, Dr. Garibaldi Almeida Wedy, pinça uma frase sua, lapidar, quando V. S.ª assumia como Desembargador e dizia que o seu maior sonho será “o dia que ninguém tenha fome e sede de justiça”. Sem dúvida alguma, para nós Legisladores, essa frase tem um significado extremamente importante, faz com que nós tenhamos que refletir também sobre isso.

O Ver. Cassiá Carpes, proponente desta Sessão Solene, está com a palavra e falará em nome do PTB, do PSB e do PMDB.

 

O SR. CASSIÁ CARPES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) (Lê.)

“O Desembargador Garibaldi Almeida Wedy é uma pessoa com notável saber jurídico que em muito tem contribuído para o aperfeiçoamento do mundo jurídico e que, na magistratura, escolheu, dentre todos os ramos, a Justiça Criminal. E, para bem exercê-la, viveu sempre com o povo, procurando conhecê-lo, amá-lo para bem julgá-lo.

Em seu discurso de posse, como já foi aqui expressado pelo nosso Presidente Fernando Záchia, ele disse: ‘O meu maior sonho é o dia em que ninguém tenha fome e sede de justiça.’

Ele é homem de inegável liderança, que inspirou a vocação a muitos dos seus próximos, servindo de belo exemplo.

Filho de Alpheu Alves Wedy e Maria Almeida Wedy, nasceu na Vila de Soledade, em 22 de outubro de 1913. Passou sua infância na denominada Fazenda do Posto, distante 30 km da sede do Município, na margem direita da estrada Soledade-Cachoeira do Sul.

Em 1924 e 1925, foi aluno interno do Colégio Sinodal, hoje Instituto Mauá, dirigido por luteranos, em Santa Cruz do Sul; em 1926, foi aluno interno do Colégio São Luís, dirigido pelos Irmãos Maristas, em Santa Cruz do Sul; em 1927 e 1928, continuou como aluno externo do referido Colégio São Luís, quando morou na casa do Professor André Klarmann, este com busto na praça da Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul. Em 1929, foi aluno interno do Ginásio N. Sr.ª do Rosário em Porto Alegre. Em 20 de dezembro de 1934, recebeu o diploma de Bacharel em Ciências e Letras do Ginásio Anchieta, na Rua Duque de Caxias, ao lado do Museu Júlio de Castilhos em Porto Alegre. Em 1935, ingressou na Faculdade de Direito de Porto Alegre. Em 15 de dezembro de 1939, colou grau em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito da Universidade de Porto Alegre.

Ele foi o primeiro suplente do Juízo Municipal da Comarca de Soledade, de 3 de julho de 1936 a 5 de agosto de 1938.

Aprovado em concurso, assumiu a Promotoria Pública de Ijuí, em 22 de abril de 1941; em 8 de novembro de 1941, assumiu a função de Promotor Público da Comarca de Santo Ângelo, que tinha como termo o Município de Santa Rosa, permanecendo nesta Comarca até 28 de maio de 1945.

Aprovado em concurso, assumiu em 30 de maio de 1945 a função de Juiz de Direito da Comarca de Sobradinho; no denominado ‘Governo dos Juízes’, foi Prefeito de Sobradinho.

Exerceu também as funções de Juiz de Direito nas Comarcas de Lajeado, Soledade, São Luiz Gonzaga, Santa Maria e Porto Alegre. Foi Juiz Eleitoral da 1ª Zona de Porto Alegre. Foi membro do Tribunal Regional Eleitoral, quando era Juiz de Direito da Comarca de Porto Alegre.

Assumiu, em 05 de dezembro de 1969, o cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, sendo aposentado, a pedido, em 14 de março de 1974.

Foi professor do Ginásio de Santo Ângelo, da Escola Normal Madre Bárbara, de Lajeado, da Faculdade de Direito Ritter dos Reis, em Canoas.

Inscreveu-se como solicitador e como advogado na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Estado do Rio Grande do Sul.

Foi Consultor Jurídico da Associação Comercial de Soledade. Foi Tesoureiro da Associação dos Juízes do Estado do Rio Grande do Sul (AJURIS), de 08 de dezembro de 1962 a 08 de dezembro de 1964.

É autor de dois livros que tratam da política da sua amada terra Soledade, sendo ‘O Pequeno Grande Mundo de Soledade’ e, ‘Soledade’ - Fatos Políticos, Violências e Mortes - Reminiscência, Década de 1930/1940.”

Ainda hoje esse homem exemplar continua contribuindo com exemplos dignificantes no exercício da profissão que exerce.

Cada cerimônia, nesta Casa, encerra uma etapa de vida, um momento, um período, uma história. A cerimônia de hoje, marcante sob todos os aspectos, é uma homenagem não apenas ao Advogado, ao Promotor, ao Juiz, ao Desembargador Garibaldi Almeida Wedy, mas também, ao homem do povo e ao cidadão que ele é, admirado nos seus gestos de inolvidável lealdade, generosidade e compreensão.

A personalidade e o caráter do Dr. Garibaldi são a síntese perfeita de duas terras com suas características e peculiaridades.

Da merencória Soledade, como falava Simões Lopes Neto, da Soledade das Sesmarias dos Monges, da Soledade das pedras preciosas, da Soledade das carreiradas, da Soledade das campereadas de menino, da Soledade dos primeiros embates no Tribunal do Júri, da Soledade das verdejantes campinas no verão, da Soledade regelada pelo pampeiro do inverno, ele trouxe a fortaleza moral e a necessária resistência física e espiritual para suportar as intempéries da vida, os sofrimentos, as perdas, os padecimentos. Daí, por certo, veio a rigidez de seu caráter inatacável.

Da sua Porto Alegre de estudante nos colégios Rosário e Anchieta, da Porto Alegre da Faculdade de Direito, da Porto Alegre do Clube dos Caçadores, da Porto Alegre do Café Colombo ou da Confeitaria Rocco, da Porto Alegre das pensões da rua da Ladeira, da Porto Alegre do Jockey Club, ele absorveu a generosidade, a simpatia, a compreensão e a tolerância.

Após, peregrinou pelos mais longínquos rincões desta terra, desde Santo Ângelo e São Luiz Gonzaga, passando por Sobradinho, Soledade, Lajeado e Santa Maria, até regressar à Capital do Estado, sempre distribuindo a boa semente da justiça.

A jornada foi longa e imprimiu em seu caráter as qualidades do homem desta terra: um caráter moldado de fé, integridade e coragem. A síntese destas andanças forjou o homem equilibrado e leal, honesto e sério, bondoso e corajoso, enfim o magistrado que seguiu à risca a lição do imortal Nelson Hungria e desceu ao chão do átrio, onde ouviu o eco da multidão, o estrépito da vida, o fragor do mundo, para tornar-se o ‘Juiz do Povo’, como o chamou o então Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Balthasar da Gama Barbosa, no dia de sua posse como Desembargador.

Contudo, a maior qualidade deste advogado de apartes desconcertantes no Tribunal do Júri, deste promotor paladino da justiça, deste magistrado exemplar, é a capacidade de fazer amigos e ensinar pelo exemplo.

Enfim, o Ex.mº Senhor Desembargador Garibaldi Almeida Wedy, se me é permitido o trocadilho, incorporou, por sua conduta pessoal, o tratamento dado às autoridades judiciais. De forma que é impossível dissociar do homem Garibaldi o tratamento dispensado ao magistrado Garibaldi. Mais do que Ex.mº  Desembargador, ele foi um excelente filho e um excelente esposo, e continua a ser um excelente irmão, um excelente pai, um excelente avô, um excelente colega, um excelente amigo, enfim, um excelente Cidadão de Porto Alegre.”

Parabéns, Desembargador! Queira receber deste Vereador, da nossa Bancada do Partido Trabalhista Brasileiro desta Casa, esta grande homenagem, que, sem dúvida, nós estamos honrados de lhe propiciar nesta tarde de hoje. Um abraço a todos e a satisfação de contar com a presença de todos, familiares e amigos, nesta grande homenagem para o Desembargador. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Esta presidência, quer, quebrando o protocolo, saudar - dentre todas as autoridades presentes, mas por tratar-se de um Parlamentar -, saudar o Ver. Manoel Pedro Silveira Castanhedo, de Soledade, o Vereador mais jovem do Estado do Rio Grande do Sul, eleito com 19 anos. Seja V. Ex.ª muito bem-vindo a esta Casa. (Palmas.)

O Ver. Estilac Xavier está com a palavra. Fala pelas Bancadas do PT e do P C do B.

 

O SR. ESTILAC XAVIER: Ex.mº Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Represento, neste ato, a Bancada do Partido dos Trabalhadores e do Partido Comunista do Brasil e com muita honra, nesta Sessão Solene que homenageia o Desembargador Garibaldi Almeida Wedy com o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre. Acompanhando a proposição do Ver. Cassiá Carpes, homem que, eleito Vereador desta Casa, tem demonstrado uma qualidade impecável, admirado pela sua seriedade, pelo trabalho e pela forma honrada com que dignifica a representação que o trouxe aqui. A proposição do Ver. Cassiá Carpes não só foi justa, mas nos convocou a vir a esta tribuna para nos somarmos à justa homenagem ao cidadão Garibaldi Almeida Wedy, nosso Desembargador.

Na sua trajetória de promotor, de juiz, desembargador, professor, dirigente da sua categoria de classe na AJURIS, como tesoureiro, como pai de família, hoje espelhado aqui nesta presença magnífica de amigos, ilustres companheiros, colegas que vieram nesta justa homenagem acompanhar, queremos nos somar, para dizer que a sua qualidade de homem público, a sua dedicação ao Direito e, principalmente à justiça, para aqueles que têm fome de justiça e sede de justiça, palavra que não se confunde muitas vezes com a lei e que, na sua perseguição permanente, como profissional e como homem de comunidade, deixou aqui na nossa Cidade uma marca indelével.

Não é fácil ser Cidadão Emérito, ilustre e Honorífico da Cidade de Porto Alegre. Mas, o senhor agora faz parte de uma galeria daqueles que, não tendo nascido na nossa Cidade, tal como eu, nascido na Cidade de Soledade, centro do Estado do Rio Grande do Sul, está sendo homenageado pelos relevantes serviços prestados e reconhecidos por esta Câmara, a alta Câmara de representação do Município de Porto Alegre de forma pluripartidária, onde se expressam a heterogeneidade e a pluralidade dos pensamentos e das vontades políticas da sociedade democrática de Porto Alegre.

Uma Cidade que tem o nome de “Porto”, certamente, a idéia de todos que aqui podem chegar, e que é “Alegre”, porque aqui certamente é o lugar, o momento, onde se constitui a existência no trabalho e nas relações.

O senhor, ao chegar nesta Cidade, não só angariou a simpatia pelo seu trabalho, sua firmeza, honradez e pela perseguição permanente da justiça mas está se somando àquilo que a nossa Cidade faz, que é ser uma cidade democrática. O senhor está contribuindo para o crescimento e desenvolvimento de uma cidade justa, que, talvez, possa se transformar em um exemplo para todos nós.

Seja bem-vindo a nossa galeria honorífica. Aceite o nosso grande abraço, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores e do P C do B, extensivo aos seus amigos, familiares e colegas. Um grande e fraternal abraço! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): O Ver. Nereu D'Avila está com a palavra pelo PDT.

 

O SR. NEREU D'AVILA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componente da Mesa e demais presentes.) Pois eu não sei se hoje falo como representante desta querida Cidade de Porto Alegre - a qual tenho a honra de representar - ou se falo em nome da constelação dos amigos, da constelação daqueles com quem, nascidos em Soledade, temos uma afetividade direta e altamente harmoniosa.

Ontem, pensando como me manifestaria nesta tarde, lembrei-me de inserir nosso homenageado, o Des. Garibaldi de Almeida Wedy, que representa uma das mais ilustres famílias da nossa querida Soledade, e lembrei-me de Érico Veríssimo. No seu inolvidável “O Tempo e o Vento”, onde ele, contou, a primeira redemocratização deste País - entre realidade e ficção - a saga das famílias que constituíram os pilares e a história deste Estado, os Terra, os Cambará, os Amaral, desde 1750 até 1946.  Pois, o Dr. Garibaldi também está no epicentro, no redemoinho da história de Soledade. E hoje rendemos à essa história, através desta Câmara, inserindo Porto Alegre nessa consecução. Eis que falar em Garibaldi faz lembrar de que seu pai, Alpheu Wedy, foi Vereador em Soledade, eleito em novembro de 1935. Falar de Garibaldi,  Wedy, faz vir à memória aquela extraordinária, magnífica, simpática e querida Haidée, colega interna da minha mãe nos idos de 1925 e 1930, lá no Colégio Notre Dame, em Passo Fundo, cujo pai, Kurt Frederico Spalding, também foi Vereador em Soledade, chamado Conselheiro, na época, em 1928.  Kurt Spalding, é nome de rua em Soledade, é nome de rua em Barros Cassal, é nome de rua em Passo Fundo, e foi vítima, ele pacato farmacêutico da Farmácia Serrana, em Soledade, das lutas que construíram a grandiosa história deste Estado entre os Maragatos e Pica-paus. Ele, pertencente ao lenço vermelho dos Maragatos, foi covardemente morto na sua farmácia por mandaletes do prefeito adversário da época, isso em 1934. Quem o defendeu, porque ele estava desarmado -  por ele matou um dos sicários, ferindo outro e o terceiro saiu correndo - foi também um legendário soledadense, o General Cândido Carneiro Júnior, o grande Candoca, um dos orgulhos da nossa terra. Vejam de onde surgiu a semente que hoje está na sua descendência gloriosa, nas pessoas, nos filhos, dos netos de Kurt Spalding e Alceu Wedy, filhos de Garibaldi e da querida Haidée que tanta falta faz, hoje, aqui. Décio Spalding de Almeida Wedy, foi promotor e procurador - hoje está aposentado - ilustre jurista, bravo companheiro de lutas estudantis comigo e com tantos outros. Décio Spalding de Almeida Wedy, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça reeleito, de notório saber jurídico, simpatia pessoal irradiante, pessoa de alto gabarito. Ainda falta falar sobre o Dirceu, o terceiro filho, que foi para o exterior, casou-se em Londres, e teve morte antecipada, deixando-nos muito jovem. Seus netos, Gabriel e Miguel - este inclusive nos assessorando, há poucos dias, aqui, com brilhantes pareceres a respeito de matéria complexa como a Previdência Social; muito jovem, mas já ilustrando as letras jurídicas, seguindo o avô e os seus ancestrais.

Essa é a inserção do nosso homenageado, a inserção como pessoa, inserção como jurista, a inserção como personalidade que honrou as tradições da nossa terra, muito cedo ainda, porque na época podia ser Solicitador e ele, no 4º ano de Direito, já era Solicitador na Vara do Júri, em Soledade, acompanhando aquele que, no meu entendimento, foi o maior e o melhor tribuno de júri que jamais Soledade viu, o Dr. Antônio Mont Serrat Martins. De modo que cedo começou nas lides jurídicas e depois passou ao excelso pretório do juizado, tendo inclusive - quando Getúlio Vargas foi deposto em 29 de outubro de 1945, quando José Linhares assumiu a Presidência, os presidentes dos Tribunais de Justiça assumiam as interventorias nos Estados e os Juízes dos municípios assumiam as prefeituras - ele assumiu a Prefeitura de Sobradinho até dezembro de 1945, quando foi eleito Eurico Gaspar Dutra, ele então passou a Prefeitura ao Prefeito eleito de Sobradinho.

Tem passagens memoráveis como Juiz. Por exemplo, eu lendo o livro de S. Ex.ª, o Dr. Garibáldi, tive de sorrir, quando naquela época, ele, sendo Juiz, foi designado para ir ao 3.º Distrito, terra de fazendeiros em Soledade, para celebrar três casamentos. Só que, naquela época, as estradas tinham muitas dificuldades de trânsito e a condução que os levava atolou, chegando atrasada já no primeiro casamento, eram quase 16h, aí houve, naturalmente, festas e celebrações. Depois, ele foi celebrar o segundo casamento já no início da noite. Como um cunhado do escrivão tinha interesse no terceiro casamento, queria que ele, sendo o Juiz,  fosse celebrá-lo também. Porém, alguém disse que haveria um rio a atravessar e, certamente o caminhão, a condução não teria condições para atravessá-lo à noite. Ele foi obrigado, então, a ficar no segundo casamento e pôde participar e dançar na festa durante a noite toda. No outro dia, celebrou o terceiro casamento como Juiz substituto, naquela época, lá na nossa terra.

Portanto, Dr. Garibaldi de Almeida Wedy, homenagear V. Ex.ª é homenagear Soledade. Porto Alegre homenageia V. S.ª, homenageando toda a constelação de grandes homens da nossa terra. Homens que, em 1932, quando houve a Revolução Constitucionalista, em São Paulo e era interventor no Rio Grande o caudilho José Antônio Flores da Cunha que, imediatamente apoiou Getúlio Vargas e todo o Estado também o fez, menos duas cidades: Soledade e Palmeira das Missões. E ali estava o embrião da morte de Kurt Spalding, seu sogro. Kurt Spalding morreu, em 1934, exatamente pelos acontecimentos da Revolução de 1932. E muitos soledadenses liderados pelo General Candoca, Cândido Carneiro Júnior, bravo caudilho da nossa terra, vieram até o front e ali defenderam as suas idéias. Defenderam contra todo o Rio Grande e até mesmo contra o Presidente Constitucional do Brasil, da Revolução de 30, Getúlio Vargas, mostrando que Soledade nunca dobrou o seu penacho para atos que não tivessem a outorga do povo da nossa cidade natal.

Portanto, hoje, eu posso dizer que V. S.ª, nesta homenagem, simboliza que a Cidade de Porto Alegre - ao outorgar-lhe este título - ajoelha-se à bravura da história da nossa querida Soledade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): O Ver. João Antonio Dib está com a palavra e falará em nome da Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meu caro novo Cidadão de Porto Alegre, Desembargador Garibaldi Almeida Wedy, seus amigos hoje estão aqui para homenageá-lo.

A vida é feita de alegrias e de sofrimentos, de sucessos e derrotas, como o ano é feito de inverno e de verão, como a terra produz árvores frutíferas e ervas daninhas. A vida é feita de momentos, Dr. Garibaldi Almeida Wedy.

V. S.ª vive um momento maravilhoso da sua vida que vai ser guardado por muito e muito tempo. A Cidade que o acolheu, por intermédio da unanimidade dos votos dos seus Vereadores, da unanimidade dos votos dos seus representantes, o acolhe agora como o mais novo Cidadão de Porto Alegre. Nós temos certeza de que Porto Alegre está ganhando com isso.

“Ninguém nos tira a imortalidade de além-túmulo, mas apraz-nos a imortalidade na terra, e são os nossos descendentes - quando Deus nos ajuda - que aqui nos imortalizam.” É o que nos diz Borgese.

E o nosso homenageado está imortalizado na terra pelos seus filhos: Décio, Délio, que estão conosco hoje e que também honram a magistratura deste Estado, pelos seus netos: Leonardo, pelo Gabriel - meu advogado numa importante ação - pelo Miguel, assessor da minha Bancada é que foi ressaltado, aqui, pelo Ver. Nereu D’Avila, que ajudou muito na concepção de um Parecer que pudesse fazer um Projeto à altura das necessidades dos municipários, à altura das necessidades da Cidade. Cumprimentos, portanto, pela sua descendência, pelo seu exemplo. (Lê.)

“Ao longo de sua jornada, a conduta do Des. Garibaldi Almeida Wedy foi estribada nos princípios acolhidos desde a sua tenra infância, na centenária Fazenda do Posto, pelo exemplo de seus pais, Alpheu e Maria. Em Alpheu, estava o exemplo de trabalho abnegado, da luta diária de sol a sol, o exemplo do campeiro e do homem de palavra e honrado, do homem corajoso e veemente. Em Maria, a docilidade materna, o carinho, o acolhimento, o amor açucarado dos doces de leite que ela fazia para Garibaldi e seus irmãos Hercílio, Laura, Margarida, Ophélia, Décio, Dercília e Alfredo.

Outro evento também marcou de forma indelével a personalidade do Des. Garibaldi: o casamento com a inolvidável Dona Haydée. Ela era a mãe amorosa, a esposa dedicada e fiel e uma avó protetora, que dispensou a todos que a conheceram uma simpatia contagiante, que demonstrava a pureza de sua alma. Juntamente com Haydée, o Des. Garibaldi suportou os sofrenaços da vida e empreendeu a maior conquista que o ser humano pode conseguir, como dizia Érico Veríssimo: ‘surpreendeu os seus semelhantes no ato de viver, demonstrando que a maior riqueza do homem é a vida, e que apesar de todas as dificuldades, tristezas e angústias, a vida vale a pena ser vivida.’

O Des. Garibaldi conheceu a Porto Alegre da década de 30, a Capital dos bondes, a Porto Alegre dos cafés e confeitarias, a inocente Porto Alegre que já não existe mais - a Porto Alegre de Alberto Bins, Loureiro da Silva, Ildo Meneghetti - até a Porto Alegre de hoje.

Pois esta Porto Alegre agora o acolhe como Cidadão, um título que significa o coroamento da conduta autêntica deste advogado ainda atuante nas lides forenses, deste escritor que retrata a história de Soledade e do Rio Grande do Sul através de sua pena, deste campeador que, aos 87 anos, maneja o seu parelheiro com a destreza de um general farroupilha, enfim, deste chefe de família, que definiu, através de seu exemplo pessoal, o destino de sua descendência.

Garibaldi Almeida Wedy viveu uma vida boa e honrada e, hoje, com mais idade pode pensar no passado e ter prazer mais uma vez. 

Em nome do meu Partido, em nome de minha Bancada, quero desejar-lhe, Des. Garibaldi Almeida Wedy, uma vida ainda muito longa, que V. Ex.ª possa continuar prestando serviços à coletividade que o cerca. E nós temos certeza de que acompanharemos este trabalho, porque V. S.ª é um homem voltado ao trabalho, à dignidade e à honra. Saúde e paz! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Convido o Ver. Cassiá Carpes a proceder à entrega do Título Honorífico Cidadão de Porto Alegre ao nosso homenageado. Convido o Sr. Nereu D’Avila para proceder à entrega da medalha.

 

(Procede-se à entrega do Título e da Medalha.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): O Deputado Sérgio Zambiasi, Presidente da Assembléia, e o Desembargador Luís Felipe Vasquez de Magalhães, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, têm compromisso às 18 horas na Assembléia e, neste momento, terão que se afastar da presente solenidade.

A Presidência desta Casa agradece a presença de honrosas personalidades políticas deste Estado que, sem dúvida nenhuma, qualificaram e prestigiaram este ato em homenagem ao Desembargador Garibaldi  Almeida Wedy.

O Desembargador Garibaldi Almeida Wedy está com a palavra.

 

O SR. GARIBALDI ALMEIDA WEDY: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) (Lê.)

“É enorme, neste momento, a minha emoção. Vivo uma indisfarçável e indizível alegria que me chega às raias da felicidade.

Perguntava Rui Barbosa: ‘Quem pôde, neste mundo, até hoje, definir a felicidade? Desde que a atenção do homem se concentrou na natureza visível para a natureza interior, a ciência, a poesia, a religião, debruçadas sobre o coração humano, revolvem o impenetrável problema, esgotando em vão a sagacidade, a inspiração, a eloqüência...’

Para mim, a felicidade é viver, nesta egrégia Câmara Municipal de Porto Alegre, um momento como este, com a presença dos meus filhos, noras, netos, irmãos, cunhados, cunhadas, sobrinhos, parentes, amigos, amigas e soledadenses. Estou no convívio agradável de tão generosas pessoas que me trazem, com as suas presenças, um estímulo para continuar a viver nesta bela Cidade de Porto Alegre, banhada pelo rio Guaíba, olhada de cima de seus morros e palmilhada nos seus demais recantos.

A Cidade de Porto Alegre, além de ser a Capital do Estado do Rio Grande do Sul, é detentora de tantos títulos conquistados, quer na paz ou  na guerra.

A Egrégia Câmara Municipal de Porto Alegre houve por bem conceder-me o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, tendo em vista a minha vida particular e pública.

É hora de agradecer, com imensa satisfação, à Egrégia Câmara Municipal de Porto Alegre, a concessão, que me é feita, do honroso Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre; é motivo de inexprimível contentamento o recebimento de tão valioso Título, Sr. Presidente! Sou profundamente agradecido à Egrégia Câmara Municipal de Porto Alegre pela outorga de título tão expressivo, que representa, para mim, uma incomensurável honraria. Agradeço, com especial reconhecimento e particular estima ao ilustre Ver. Cassiá Carpes, a quem muito admiro.

O preclaro Vereador Cassiá Carpes teve a generosa iniciativa de propor o Projeto de Lei, convertido em Lei, que me concede o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre. O ilustre Ver. Cassiá Carpes, natural de São Borja, não nega a sua procedência. São Borja é a sentinela da fronteira do Brasil com a Argentina.

É também a terra em que nasceram os ilustres ex-Presidentes da República: Dr. Getúlio Dornelles Vargas e Dr. João Belchior Marques Goulart.

A vida pregressa do ilustre Ver. Cassiá Carpes é um exemplo de luta e trabalho. A sua franqueza e a sua fidalguia são traços marcantes de sua personalidade; a sua coragem é a mesma daqueles que alargaram e mantiveram as fronteiras do Brasil; a sua honestidade e o seu desejo de prestar serviço em favor do bem comum são apanágios que sustentam a sua vitoriosa carreira política.

A Redução de São Francisco de Borja, um dos Sete Povos das Missões, foi fundada com base nas virtudes teologais: fé, esperança e caridade.

O ilustre Ver. Cassiá Carpes marcou presença no esporte com brilhante carreira desportiva: foi jogador de futebol de grandes times, foi técnico de futebol de valorosos clubes, é comentarista esportivo em programas de rádio e televisão, foi fundador do Sindicato dos Atletas do Rio Grande do Sul e da Associação de Garantia do Atleta Profissional.

Agradeço todas as palavras bondosas de todos os Srs. Vereadores, representantes de partidos políticos nesta Egrégia Câmara Municipal. Percebi, em todos os amáveis discursos aqui proferidos, um pouco da alma de cada um dos brilhantes oradores, aos quais eu reverentemente agradeço.

Sr. Presidente, procurarei honrar, da melhor maneira possível, a distinção aqui recebida.

Meus senhores e minhas senhoras, a minha vida passou pelo crivo, pela apreciação minuciosa da Egrégia Câmara Municipal de Porto Alegre. Os que aqui compareceram conhecem, de sobejo, a minha vida em todas as suas faces. Apesar disso, tomo a liberdade de acrescentar: na vida de todos, desde o nascimento até a morte, há sempre um livro ou mais livros. Os livros mais conhecidos são: o livro de assento de nascimentos, o livro de casamentos e o livro de óbitos.

Nas casas legislativas existem os Anais, que ‘registram fatos históricos ou pessoais.’ É nos Anais da Câmara Municipal de Porto Alegre que, de agora em diante, vai constar o meu nome. Vai constar também, por via de conseqüência, que nasci na então Vila de Soledade, situada no planalto rio-grandense. Soledade é a ‘ Capital das pedras preciosas.’ Dois ilustres soledadenses já receberam o Título de Cidadão de Porto Alegre: o Dr. Nélson Silva Porto, médico de renome no Brasil e fora do Brasil, e o Desembargador Mílton dos Santos Martins, ex-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado.

O ilustre Ver. Nereu D’Avila, ex-Presidente desta Casa, é filho dileto de Soledade. O ilustre Dr. Sereno Ferreira Chaise, ex-Prefeito de Porto Alegre, integra a lista de filhos ilustres de Soledade, minha amada terra natal.

No livro da minha vida consta um capítulo agradável, o meu convívio com a hospitaleira população de Porto Alegre. Todos os ilustres oradores que me saudaram já deram dados referentes a minha vida. Por isso penso que esses dados são do conhecimento de todos, e, portanto, é desnecessário nomeá-los agora.

Aqui vou contar alguma coisa sobre Porto Alegre, um fato da classe acadêmica. Em 1936, houve uma greve vitoriosa na Faculdade de Direito da Universidade de Porto Alegre, promovida pelos alunos dependentes de Economia Social - Economia Pura e Política Econômica. O Professor catedrático foi substituído. O próprio Diretor da Faculdade de Direito examinou os alunos dependentes. O tempo tudo cura, o saudoso professor, substituído, recebeu uma homenagem póstuma, figurando no quadro de formatura da turma de 1939, que era a turma dos alunos dependentes.

Havia a Casa do Estudante. Os alunos que podiam pagavam uma contribuição para a Casa do Estudante, paga na tesouraria da Faculdade de Direito, com relação aos seus alunos.

Em Porto Alegre passei, praticamente, toda a minha juventude. Lembro que a Rua da Praia - a Rua dos Andradas - era a vida de Porto Alegre, era sua vitrina, o seu cartão postal. A Rua da Praia mostrava a vida política, administrativa, comercial, social e estudantil de Porto Alegre. Na Rua da Praia havia passeio e trabalho. Na Rua da Praia formavam-se rodas de políticos que a freqüentavam. Os Desembargadores, depois das Sessões do Tribunal, desciam para a rua da Praia.

Na Rua da Praia, como já foi referido por oradores que me antecederam, havia muitos cafés espaçosos, com mesas e cadeiras, tais como o Café Colombo, o Café Nacional e o Café Florida; neste, havia, aos domingos, bailes ou reuniões dançantes depois da matinê. À tarde, passavam carros pela rua da Praia despejando água sobre o calçamento. Era o cuidado com a rua e com a vida das pessoas.

Nas tardes de domingos, os cinemas estavam completamente lotados. À noite, havia duas sessões de cinema. Não raro, o chefe da família saía do cinema de chapéu na cabeça e bengala na mão. Na frente do casal, a filha com o namorado ou com o seu noivo.

As praças de Porto Alegre, além de serem do povo, eram de todos. Nelas havia, de dia e de noite, passeio e lazer.

No Auditório Araújo Viana, ao lado da Praça Marechal Deodoro - ou Praça da Matriz - havia, às quartas-feiras e aos domingos, concerto ou retreta pela Banda Municipal. Assisti, da Praça da Alfândega, aos discursos de grandes oradores, proferidos sem o auxílio de microfones, das sacadas do Grande Hotel ou do edifício em frente.

O Grande Hotel foi o quartel-general dos políticos e revolucionários da Revolução de 1930. O incêndio, que o destruiu, não faz muito, consumiu a memória de um pedaço da história política do Estado do Rio Grande do Sul.

O bonde era o principal meio de transporte de todas as classes sociais de Porto Alegre. O bonde ligava o Centro à periferia. Dos arrabaldes, as pessoas convergiam para a Praça XV de Novembro, onde havia, além do Chalé, com mesas e cadeiras ao ar livre, o Abrigo, lugar de embarque e desembarque de passageiros dos bondes. No Abrigo estava instalado o Bar Balu, com música e cantante. Há poucos dias, dois jornalistas fizeram referências ao Bar Balu do Abrigo.

Em 1930, assisti, do cais do porto, ao embarque festivo de Yolanda Pereira, Miss Pelotas, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo.

Ao cais do porto de Porto Alegre chegavam pessoas de todo o mundo. Do cais do porto de Porto Alegre partiam pessoas para todos os recantos do mundo.

Nas proximidades do Mercado Público, havia um cais, ou atracadouro, ou ancoradouro. Nos rios do Estado flutuavam e navegavam embarcações de todos os tipos. Por exemplo, os vapores da Companhia de Navegação Arnt conduziam passageiros e cargas usando os Rios Taquari, Jacuí e Guaíba. E havia a barca para a Cidade de Guaíba.

A vida social de Porto Alegre era animada, principalmente pelos bailes das grandes e pequenas sociedades.

A vida noturna - já foi referida aqui, vale a pena repetir - concentrava-se no cabaré, isto é, ‘casa de diversões, onde se bebe e dança, em geral se assiste a espetáculos de variedades.’ Nos cabarés, havia todos os tipos de jogos. A jogatina era livre e franca. O jogo sustentava, e bem, a diversão noturna.

As chamadas pensões de mulheres completavam o quadro de diversões dos boêmios. O meretrício estava localizado no Beco do Oitavo, lugar preferido por marinheiros adventícios.

Os esportes eram: futebol, remo e tênis. Uns dez times de futebol de Porto Alegre disputavam o campeonato. Vi o juiz do jogo ser escolhido entre os assistentes ou espectadores. O escolhido, tirando o casaco e a gravata, entrava no campo para apitar a partida.

Havia trem para a Tristeza. A praia da Pedra Redonda era muito freqüentada. Ali, havia cassino ou casa de jogo.

Terminados os estudos em Porto Alegre, voltei para o interior do Estado, onde exerci, sucessivamente, a profissão de advogado, e os cargos de Promotor Público – hoje Promotor de Justiça – e de Juiz de Direito.

Voltei para Porto Alegre, para aqui ficar, em julho de 1957. Todos já mencionaram a minha atividade no interior do Estado, assim como mencionaram a minha atividade aqui em Porto Alegre.

Sr. Presidente, desejo que a Egrégia Câmara Municipal, eco das aspirações e insatisfações da população de Porto Alegre, continue a legislar e a exercer as suas nobres atribuições, com os olhos voltados para as necessidades da população de Porto Alegre, amparada na moral e na lei, limites da conduta humana. E, além disso, inspire-se na concepção política de ‘governo do povo, pelo povo e para o povo.’

Olhando a história evolutiva da civilização do Brasil, desde seu descobrimento, em 1500, noto que, de mudança em mudança, o Brasil chegou até os nossos dias.

Não tenho o propósito de discutir se cada mudança foi um progresso ou uma evolução. Também não tenho a intenção de dizer se cada mudança ou alguma mudança foi para melhor, porque sei, perfeitamente, que essa tarefa é reservada, exclusivamente, aos doutos os quais observam e interpretam os nossos fatos sociais e, depois, receitam - ou ministram - os remédios, formulados na dose exata para aplacar ou debelar as nossas exigências vitais e dificuldades visíveis.

Mirando o imenso Brasil, com as suas virtudes e vícios, não sinto inquietação de consciência, porque vejo a minha grande Pátria, com tolerância máxima. Lembro-me de que a Revolução de 1930 pregava o combate enérgico e impiedoso contra o carcomido, ou seja: o combate contra o gasto, o estragado, o corroído, o apodrecido, o corrupto, ou contra o vício que corrompe uma instituição.

Acredito, sem descrença, no futuro promissor do Brasil. Como brasileiro quero continuar neste ‘berço esplêndido’, crendo, sem nenhuma hesitação, no Brasil, tal qual está na letra do Hino Nacional: ‘Gigante pela própria natureza,/És belo, és forte, impávido colosso,/E o teu futuro espelha essa grandeza.’

Também confio nas divisas de nossas bandeiras que consagram os nossos anseios de povo livre. A legenda da Bandeira do Brasil é ‘Ordem e Progresso’. Isso quer dizer: com ordem é a tranqüilidade da paz. O progresso é o resultado do trabalho de todos os brasileiros, em toda as frentes de trabalho humano.

O dístico do estandarte do Estado do Rio Grande do Sul é: ‘liberdade, Igualdade, Humanidade’. Foi em nome da liberdade que os Farrapos escolheram, na Revolução Farroupilha, Giuseppe Garibaldi, o corsário rio-grandense e herói de dois mundos. A fraternidade, inscrita no pavilhão rio-grandense, não é, por certo, a de Abel e Caim, referida na Bíblia, mas é, com certeza, a fraternidade que leva à convivência pacífica como deve ser a de todos os irmãos, em clima de estima e cordialidade.

A palavra ‘humanidade’ no pavilhão rio-grandense, sem dúvida, tem sentido literal, abrangendo o conjunto de todos os habitantes do Rio Grande. Sendo assim pálio da gauchada. A Cidade é detentora do título ‘Leal e Valerosa Cidade de Porto Alegre.’

O saudoso historiador Walter Spalding escreveu sobre o significado do Brasão de Porto Alegre, concluindo assim: ‘Símbolo heráldico da Cidade, o Brasão de Porto Alegre é o emblema democrático, não apenas na Capital gaúcha, mas de todo o seu povo dinâmico e ordeiro. É um emblema que honra a Cidade e sua gente.’

Com gratidão, que é virtude peregrina, que não esquece, nem some, agradeço a presença das autoridades, de todos os presentes e de todos os soledadenses.

Com imorredoura saudade, que é a ‘presença dos ausentes’, guardo, no íntimo do coração, como quem guarda um tesouro inviolável, a lembrança das pessoas que, em vida, me eram caras, e, por terem saído desta vida, não estão aqui. Muito obrigado. Felicidades a todos.” (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Neste momento convidamos todos os presentes para, em pé,  ouvirmos a execução do Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Registramos a presença, além daqueles que se manifestaram, dos seguintes Vereadores: José Fortunati, Elói Guimarães, Isaac Ainhorn, Ervino Besson e do Ver. Reginaldo Pujol.

Agradecendo a presença de todos, damos por encerrada esta Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão Solene às 18h38min.)

 

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